Emprego Uma licenciatura já não é o que era Autor:Carlos Marçalo | JuarezC@revistas.cofina.pt Data Publicação:19/09/2017 Quem entra hoje no mercado de trabalho enfrenta um choque de expectativas. Uma licenciatura pode já não ser suficiente para os portugueses. Portugal é um dos países onde mais compensa concluir a licenciatura, mas essa vantagem parece estar a degradar-se devido a uma maior exigência do mercado de trabalho, mas também a diferentes níveis de empregabilidade consoante as áreas, bem como uma maior valorização das capacidades sociais. Dados de várias fontes mostram que os salários dos licenciados não estão a recuperar como os dos restantes trabalhadores portugueses. Há vários motivos para isso – ver o texto ao lado – mas a mensagem para os mais jovens parece ser clara: ter uma licenciatura já não é suficiente. "Ter só a licenciatura? Só o grau não chega", nota João Cerejeira, professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho. O especialista em mercado de trabalho publicou este ano – com outros cinco autores portugueses - um estudo que conclui que o prémio salarial dos licenciados tem caído nos últimos anos, ao mesmo tempo que aqueles que possuem mais qualificações (mestrados, doutoramentos) vêem esse prémio crescer. A progressiva qualificação da mão-de-obra portuguesa desencadeou um processo de substituição. Pense numa escada. À medida que o número de trabalhadores pós-graduados aumenta no topo, eles vão empurrando os licenciados para baixo, ocupando o seu lugar na escada. Por sua vez, os licenciados – também eles em maior número - vão descendo e ocupando lugares onde antes estava quem tinha apenas qualificação secundária. "Os nossos resultados sugerem, assim, que uma pós-graduação se tornou num instrumento muito importante para evitar o risco de ter um trabalho de salário baixo e menos atractivo", escrevem os autores do estudo. O problema não está apenas nestas dinâmicas do mercado de trabalho. Por exemplo, não é indiferente a área que se escolhe para tirar a licenciatura: as ciências representam um porto mais seguro de empregabilidade do que as humanidades. "As pessoas devem estar informadas. As humanidades não devem ser uma hipótese de recurso" para quem não sabe o que quer estudar, nota João Cerejeira, lembrando ainda que as chamadas "soft skills" – capacidades sociais, de organização e trabalho em grupo – são cada vez mais valorizadas e não se medem com um diploma. Canudo ainda compensa Porém, é importante que este tipo de conclusão não desincentive o processo de qualificação do país. Portugal tem um dos números de licenciados mais baixos face à sua população total na Europa, o que significa que ele é necessário. Além disso, segundo os dados da OCDE, Portugal continua a ser uma das economias onde o prémio salarial por ter uma licenciatura é mais elevado, superado na Zona Euro apenas pela Eslovénia. Os autores do estudo reconhecem esse risco, referindo que as licenciaturas "têm tradicionalmente sido ligadas a maior retorno" financeiro. A tendência do mercado pode levar um desencontro entre a realidade e as expectativas, o que pode penalizar "a continuação do processo de massificação de educação mais alta entre os jovens". Artigo publicado no Jornal de Negócios Partilhar esta informação
Emprego Uma licenciatura já não é o que era Autor:Carlos Marçalo | JuarezC@revistas.cofina.pt Data Publicação:19/09/2017 Quem entra hoje no mercado de trabalho enfrenta um choque de expectativas. Uma licenciatura pode já não ser suficiente para os portugueses. Portugal é um dos países onde mais compensa concluir a licenciatura, mas essa vantagem parece estar a degradar-se devido a uma maior exigência do mercado de trabalho, mas também a diferentes níveis de empregabilidade consoante as áreas, bem como uma maior valorização das capacidades sociais. Dados de várias fontes mostram que os salários dos licenciados não estão a recuperar como os dos restantes trabalhadores portugueses. Há vários motivos para isso – ver o texto ao lado – mas a mensagem para os mais jovens parece ser clara: ter uma licenciatura já não é suficiente. "Ter só a licenciatura? Só o grau não chega", nota João Cerejeira, professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho. O especialista em mercado de trabalho publicou este ano – com outros cinco autores portugueses - um estudo que conclui que o prémio salarial dos licenciados tem caído nos últimos anos, ao mesmo tempo que aqueles que possuem mais qualificações (mestrados, doutoramentos) vêem esse prémio crescer. A progressiva qualificação da mão-de-obra portuguesa desencadeou um processo de substituição. Pense numa escada. À medida que o número de trabalhadores pós-graduados aumenta no topo, eles vão empurrando os licenciados para baixo, ocupando o seu lugar na escada. Por sua vez, os licenciados – também eles em maior número - vão descendo e ocupando lugares onde antes estava quem tinha apenas qualificação secundária. "Os nossos resultados sugerem, assim, que uma pós-graduação se tornou num instrumento muito importante para evitar o risco de ter um trabalho de salário baixo e menos atractivo", escrevem os autores do estudo. O problema não está apenas nestas dinâmicas do mercado de trabalho. Por exemplo, não é indiferente a área que se escolhe para tirar a licenciatura: as ciências representam um porto mais seguro de empregabilidade do que as humanidades. "As pessoas devem estar informadas. As humanidades não devem ser uma hipótese de recurso" para quem não sabe o que quer estudar, nota João Cerejeira, lembrando ainda que as chamadas "soft skills" – capacidades sociais, de organização e trabalho em grupo – são cada vez mais valorizadas e não se medem com um diploma. Canudo ainda compensa Porém, é importante que este tipo de conclusão não desincentive o processo de qualificação do país. Portugal tem um dos números de licenciados mais baixos face à sua população total na Europa, o que significa que ele é necessário. Além disso, segundo os dados da OCDE, Portugal continua a ser uma das economias onde o prémio salarial por ter uma licenciatura é mais elevado, superado na Zona Euro apenas pela Eslovénia. Os autores do estudo reconhecem esse risco, referindo que as licenciaturas "têm tradicionalmente sido ligadas a maior retorno" financeiro. A tendência do mercado pode levar um desencontro entre a realidade e as expectativas, o que pode penalizar "a continuação do processo de massificação de educação mais alta entre os jovens". Artigo publicado no Jornal de Negócios